Memórias de uma nave espacial
Lembro-me de, em criança, depois de tanto tempo a descansar, os meus pais me assustavam com a ideia de uma nova fase começar. O céu parecia mais iluminado, a música dos passarinhos penetrava nos meus ouvidos e sossegava a minha alma, o vento fresco batia no meu corpo e desenhava a pintura perfeita de um novo começo. Não sentia medo nem tristeza, invadia-me o desejo de descoberta e aprendizagem. Era como se fosse habitar outra galáxia e tivesse tanta necessidade de descobrir a magia que nem me importava de ter de trepar aquelas pedras que magoavam os pés para entrar na nave da descoberta. Os dias corriam à velocidade da luz e o convite chegava às minhas mãos. E eu, ansiosa, não temia…. Apenas via florescer em mim a alegria de poder compartilhar e unificar o meu corpo com a luz que na aprendizagem reluzia.
Vivi cada recomeço escolar encarnando força que trespassava medos e inseguranças e observei o espelho da conquista, apesar de nunca ter sido muito fácil aceitar os erros e aprender a consertá-los.
Hoje em dia, sou mais crescida, mas a magia continua a emanar da minha mente, tentando desconstruir preconceitos e viver em plenitude com a nave que não me levará a Marte, mas conduzir-me-á ao sucesso desde que saiba repará-la com as ferramentas adequadas e temperá-la até me saciar.
As memórias que tenho da escola são o retrato que personifica a minha identidade e me faz querer ser melhor, pois sei que nem sempre a alegria floresceu desta jornada. Além de um degrau de maturidade e conhecimento, a escola foi ainda a chave para a autodefesa e autoconhecimento, porque só quando te ridicularizam e gozam por seres autêntico e pensares de forma diferente, aprendes que a própria vida é uma história e que és o responsável pelo final que lhe podes dar.
Recomeçar a escola ensina-me sempre que, manter a minha identidade e lutar pelos meus sonhos, é um motivo de orgulho e entrar na nave da descoberta disposta a lidar com avarias é uma vitória para todos aqueles que me ajudam a construir o muro da força e me dão bofetadas nos momentos em que camuflar quem sou para ser aprovada se vislumbra como o bilhete de entrada para esta jornada. Não posso querer ser aquilo que não sou e não tenho o direito de exigir aos outros que sejam diferentes para pertencerem ao meu “eu”.
A diversidade é uma escolha e foi a infância na escola que me ensinou que a beleza de uma pintura não é o desenho, é a sobreposição de cores e a diferenciação que a torna única e deslumbrante.
Inês Rodrigues, 11º A